Jornal TRIBUNA IMPRESSA - 08/12/2013 - page 7

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Araraquara, 8 de dezembro de 2013
Tribuna Impressa
Cidades
ISABEL CRISTINA BARROSO
49 anos, auxiliar técnico administrativo
Lembro-me como se fosse
hoje... Eu e minha mãe, Antonia,
e meus irmãos, José, Antonio,
Maria, Admilson e Rosendo mo-
rávamos num sítio para lá do Ce-
mitério dos Britos, no Vale do Sol.
Minha mãe, viúva, trabalhava na
roça; aceitava qualquer emprego
nas lavouras para nos sustentar.
Éramos muito pobres. Foi uma
infância muito difícil, não tínha-
mos nem o que comer, os patrões
dos sítios nos ajudavam bastante.
Em casa, minha mãe procura-
va nem falar muito sobre a magia
do Papai Noel, para não criar na
gente, os filhos, expectativas. Eu
mesma não alimentava essa ideia,
sabia da existência dele de ouvir
as pessoas comentando. Nunca
escrevi uma cartinha para o Papai
Noel e só tive bonecas feitas de es-
piga de milho.
Como éramos muito pobres,
sempre precisávamos de ajuda
nutricional, por isso, todos os
meses íamos a pé do sítio até o
Sistema Especial de Saúde de Ara-
raquara (Sesa), que fica no Cen-
tro da cidade. Não me lembro de
MINHA
HISTÓRIA DE
quanto tempo demorávamos para
chegar, mas acredito que a gente
saía de casa por volta das 4h30 da
manhã e retornávamos próximo
do meio-dia. Minha mãe seguia
bem devagarzinho com seus seis
filhos, para evitar nosso cansaço.
Isto também ocorria quando tí-
nhamos que tomar vacinas.
Em dezembro de 1972, perto
do Natal, numdia quente, quando
voltávamos do Sesa, já na porteira
do sítio, estávamos muito cansa-
dos. De repente, um homem, alto,
gordo e sembarba, parou comum
carro cinza e começou a tirar do
veículo mantimentos e brinque-
dos para cada um de nós, como
bonecas e bolas. Não me lembro
de tê-lo visto antes, mas parecia
ser uma pessoa boa. Parecia mes-
mo um milagre natalino. Quando
minha mãe perguntou quem era,
Mande sua história para
qual o seu nome, lembro-me das
palavras ditas por aquele homem
generoso: “Sou apenas umfilho de
Deus que por aqui passa”.
Nunca mais me esqueci deste
episódio. Depois disto, todo Natal
volta esta lembrança, que certa-
mente serviu tanto para me ale-
grar, como aprender que, apesar
de tudo, ainda existempessoas ge-
nerosas e certamente haverá sem-
pre Papai Noel igual a esse, que
nunca deixará morrer o sonho de
cada criança.
Depois disso, minha mãe me
deu para uma tia criar e, assim,
pude estudar. Hoje sou avó, come-
moro o Natal, mas sem ostenta-
ção, pois sei como é duro não ter
nada para comer e existemmuitas
pessoas nesta situação.
(Apoio de texto: Micheli Valala)
LEMBRANÇA
Natal de 1972 foi inesquecível para Isabel Barroso
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