Jornal TRIBUNA IMPRESSA - 08/12/2013 - page 6

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Cidades
Araraquara, 8 de dezembro de 2013
Tribuna Impressa
Número de trotes triplica durante
férias escolares em Araraquara
Em um dia comum, a Polícia Militar e o Samu recebem mais de 230 ligações com ‘brincadeiras’ e falsos comunicados
PAULA DOS SANTOS
O telefone do Samu (Ser-
viço Médico de Atendimento
de Urgência) toca. Do outro
lado da linha, uma pessoa
desesperada, dizendo que viu
alguém levar uma facada. Ela
passa o endereço, horário, es-
tado da vítima e todas as in-
formações necessárias.
Como a pessoa corre risco
de vida, a equipe do Samu se
mobiliza rapidamente para che-
gar ao local, priorizando este
atendimento. Quando encon-
tram o endereço, descobrem
que tudo não passou de um
trote. Todos os dias, somando
os trotes passados no Samu e na
Polícia Militar, são mais de 230
ligações em Araraquara.
(veja
mais ao lado).
No período de
férias, esse número chega a 700
ligações diárias.
NÃO É SÓ CRIANÇA
Nas férias escolares, nos
meses de dezembro e janeiro,
a tendência é que o número
de trotes triplique. Segundo a
enfermeira e gestora do Samu
de Araraquara, Daniela de
Oliveira, o trote acaba atra-
palhando o atendimento de
pessoas que realmente preci-
sam de socorro.
“Quando alguém liga para
o 192 para passar um trote, a
linha fica ocupada. Por mais
que a gente tenha dois telefo-
nes, pode acabar atrapalhando
alguém que esteja tentando
ligar. Tem muita criança que
liga, faz uma piada, uma brin-
cadeira e desliga. Isso já atra-
palha a gente”, explica.
O que mais atrapalha o tra-
balho do Samu é quando al-
guém simula uma ocorrência.
“Tem adulto que liga, diz que
viu um acidente, passa endere-
ço, todos os dados e não tem
como a gente saber se é trote.
Vamos correndo para lá, sen-
do que poderíamos salvar al-
guém”, avalia.
CONSCIENTIZAÇÃO
Para conscientizar as crian-
ças sobre as consequências de
passar trote, o Samu realiza
um trabalho nas escolas. “Os
profissionais orientam os alu-
nos, explicam a importância
do nosso trabalho e os peque-
nos aprendem até primeiros
socorros. Isso tem dado um
resultado positivo, já que eles
passam a entender que o trote
não é brincadeira”, conta.
Em alguns casos, após uma
criança ligar para o Samu para
contar alguma piada, os pro-
fissionais retornam a ligação
e falam com os pais. “Pedimos
que eles orientem os filhos e fi-
quem atentos se eles estiverem
usando o telefone. É importan-
te que os pais nos ajudem nes-
se trabalho de conscientização
também”, finaliza Daniela.
BRINCADEIRA PERIGOSA
O trote não é considerado
crime, mas passar uma infor-
mação falsa é e tem pena pre-
vista de seis meses a um ano de
detenção. E também aplicação
de multa, quando o autor da
falsa ocorrência for identifica-
do. As ligações para o 190 vin-
das de Araraquara são atendi-
das pelos policiais de Ribeirão
Preto e, depois, encaminhadas
para os profissionais daqui.
Segundo o sargento Josoel
Ferreira, do Copom de Ri-
beirão, a família pode ajudar
muito na conscientização das
crianças. “Nossa orientação
é que os pais monitorem os
filhos e os conscientizem de
que o trote é uma brincadei-
ra perigosa. Os policiais são
treinados para identificar, mas
algumas vezes é tão real que
acaba gerando uma saída inde-
vida. Numa dessas saídas, uma
ocorrência grave pode deixar
de ser atendida ou ser atendida
com atraso”, afirmou o policial
militar, em entrevista ao
Jornal
A Cidade
, de Ribeirão Preto.
Mulher passa 3.661 trotes
Em junho, a Polícia Mili-
tar de Araraquara deteve uma
mulher, de 45 anos, após ela
passar 3.661 trotes no 190 em
apenas uma semana. Foram
523 ligações por dia, o equiva-
lente a uma ligação cada três
minutos. Por conta da frequ-
ência dos trotes, a PM conse-
guiu rastrear e chegar a uma
residência no Vale do Sol. Na
delegacia, ela acabou se exal-
tando, arranhando o rosto de
um policial e sendo presa por
lesão corporal. Ela alegou que
queria ligar em uma emissora
de rádio para falar com um de-
terminado locutor.
700
É o número estimado de
trotes diários que o Samu e
a Polícia Militar de Araraqua-
ra recebem durante as férias
escolares
Quem passa trote atrapalha o Samu
de duas formas: ocupando a linha e,
às vezes, até deslocando a equipe
para uma falsa ocorrência.
DANIELA DE OLIVEIRA
Enfermeira e gestora do Samu de Araraquara
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