Jornal TRIBUNA IMPRESSA - 08/12/2013 - page 3

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Araraquara, 8 de dezembro de 2013
Tribuna Impressa
Opinião
Nelson Mandela apresentava
um raciocínio bastante objetivo
sobre o racismo, em que ninguém
nasce odiando negros: o ódio dire-
cionado é uma lição transmitida to-
dos os dias, a todo instante — e não
uma informação de nosso código
genético. Mandela tem razão.
O senso de proteção de grupo,
que permitiu a nós, humanos, che-
garmos até aqui, dispõe de reações
violentas em situações de risco.
Felinos de caça odeiam hienas por
um motivo econômico: disputam
as mesmas presas. Esse ódio, no
entanto, só se manifesta em eventos
em que se encontram frente a fren-
te pela mesma carne abatida. Isso
significa que leões não propagam
manifestos contra hienas, nem as
atacam aleatoriamente como forma
de dizimá-las e minimizar probabi-
lidades. Se fossem dotados de sofis-
ticação na comunicação e na área
do cérebro que responde por cál-
culos matemáticos, os reis da selva
mudariam seu comportamento? A
julgar pela conduta de humanos, a
resposta é sim.
O racismo na África do Sul é
diferente do destilado no Brasil.
Lá, resulta da colonização europeia
na corrida do velho continente por
riquezas — a República da África
do Sul foi constituída apenas em
1961. O
Apartheid
, de 1948, é a
segregação racial legalmente insti-
tucionalizada — e foi oficialmente
destituído somente em 1994, há
menos de 20 anos. Aqui, hoje, o
racismo aparece como consequên-
cia do regime de escravocracia —
e a África, como emergente qual
o Brasil, ainda vai passar por esse
problema: é quando o racismo não
se evidencia mais por agressões,
mas por condições de acesso, favo-
recimentos e, em última instância,
cartas de recomendação.
No último levantamento da
ONG Transparência Internacional,
o Corruption Perceptions Index
2013, divulgado esta semana, Áfri-
ca do Sul e Brasil figuram empata-
dos na longínqua 72ª posição, com
nota 42 — Dinamarca e Nova Ze-
lândia são os países menos corrup-
tos, com nota 91.
Com Mandela, nem o mundo
ficou livre do racismo (visível ou
invisível) nem ficou livre das de-
sigualdades — muito menos da
corrupção. Mas o mundo ficou me-
lhor. Mandela ajudou a eliminar o
conceito de raça e a elevar o concei-
to de espécie. Faz toda a diferença
se vislumbramos a meritocracia no
horizonte da humanidade.
*é jornalista e publicitário
O inestimável legado de Mandela
IMAGEM DO LEITOR
ONDAS NA ÁGUA
“Aproveito as boas energias da natureza e trago os reflexos e círculos na água”, diz o texto do
e-mail do leitor Cláudio Ruiz.
COLABORAÇÃO/CLÁUDIO RUIZ
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para o e-mail
PONTO DE VISTA
Rodrigo Brandão*
Pimenta vermelha
A nova direção do PT de Araraquara tomou
posse na sede do partido, na manhã de ontem. A
ex-vereadora Márcia Lia, agora presidente, promete
‘apimentar’ as relações políticas na cidade em breve.
Por enquanto, a proposta é planejar a atuação do
partido no próximo ano. Ciente de ter a agenda
cheia em 2014, com as campanhas de Dilma,
Padilha e Edinho, ela quer começar janeiro de forma
organizada e com todas as diretrizes definidas.
E o Agatte?
Depois de dois mandatos como presidente municipal
do PT, André Agatte agora assume um novo cargo no
partido. O petista continuará trabalhando por Araraqua-
ra, mas também deve pensar em outras 84 cidades, já que
fará parte da executiva da macrorregião. Ele tomará posse
da nova função amanhã.
Vai dar choque
Entre os petistas, há quem acredite que a “sede” com
que ela está voltando ao cenário político, por meio da pre-
sidência do diretório municipal do PT, deixe ainda mais
acirrada a briga interna entre ela e o vereador Édio Lopes.
Isto porque, a ex-parlamentar já chamou para si o papel
de dar um tempero mais ardido à bancada da legenda na
Câmara, que é liderada por Édio. Para quem não sabe, os
dois já estão se engalfinhando pela indicação do partido
na disputa a deputado estadual no ano que vem.
Pros, não
Sobre as especulações de que João Farias (PRB) chegou
a cobiçar o Pros, que acabou ficando mesmo na aba de
Marcelo Barbieri (PMDB), o presidente da Câmara esnoba.
“De jeito nenhum, é totalmente insignificante. Eu só sairia
do meu atual partido para ir para uma legenda relevante”,
afirma ele. Verdade ou não, o fato é que o peerrebista está
cada vez mais desconfortável em sua atual sigla, especial-
mente depois da reversão, em esfera estadual, da expulsão
de Renato Haddad.
Missão hercúlea
Questionado sobre quais seriam os principais desa-
fios do prefeito Marcelo Barbieri no ano que vem, um
governista não perdeu a piada: “trazer o João Farias para
a base.” Realmente, o presidente da Câmara anda meio
bipolar ultimamente: dias depois de acenar com bandeira
branca e sentar como mocinho com Barbieri para discu-
tir a relação, ele já chutou o pau da barraca de novo. A
encrenca agora é o Plano Diretor. O prefeito quer votá-lo
este ano, mas Farias empacou e promete levar a bola do
jogo para casa.
DEIVIDE LEME/TRIBUNA IMPRESSA
MÁRCIA LIA
A ex-vereadora é a nova presidente municipal do PT e tomou posse
ontem de manhã, na sede do partido
FARO
FINO
Nelson Mandela após longa
enfermidade, finalmente morreu.
Para minha geração esta notícia
tem grandioso significado. Quem
foi maior que ele no século 20?
Muitos podem ter sido obviamente
em suas áreas especificas. Nas artes
(Picasso, Niemeyer, Machado de
Assis, Fernando Pessoa, Chaplin),
ciências (Einstein, Fleming, Zerbi-
ni), esportes (Pelé, Jordan, Senna),
política (Lênin, Churchill, Roo-
sevelt, Getúlio), assim por dian-
te. Todavia um século que passa
sua primeira metade aprendendo
a reverenciar um homem como
Mahatma Gandhi, certamente co-
nhece o apogeu da referência ética
em Nelson Mandela. Particular-
mente grandioso para mim. Nasci
em julho de 1963, o mês e ano da
prisão eminentemente política de
Mandela. Em 1990 quando ele é
libertado eu já estava formado e
na verdade com 27 anos já era ve-
reador de Araraquara e suplente de
deputado estadual. Mandela era re-
ferência para mim.
Nunca entendi o racismo, mais
propriamente a segregação racial.
Políticas publicas segregacionistas
sempre foram, para mim, o máxi-
mo da abominação. Há ditadores
que matarammais que Hitler. Stálin
por exemplo. Mas Hitler marcou
nossas vidas pelo racismo, segrega-
cionismo que atingia não a cor da
pele (embora ele odiasse os homens
de pele negra), mas uma raça espe-
cifica, os judeus.
Por isso talvez, Mandela tenha
sido este símbolo grandioso do
século 20. O homem que repre-
sentou mais que a ciência (imagi-
nem significar mais que qualquer
um que nos dotou da tecnologia
moderna em que vivemos), mais
que as artes (o cinema e a televisão
arrebatadores), mais que qualquer
outro símbolo. Mandela represen-
tou nossa revolta interior, nosso
inconformismo, nosso lado bom e
justo. Mandela, ao mesmo tempo,
evidenciou nossa covardia. Ele foi
fruto da covardia que nos preside
e nos impede de lutar. Como ele,
muitos pagaram e ainda pagam
caro pelo nosso comodismo, pelos
interesses econômicos acima dos
interesses humanos; pela ganân-
cia, pelo egoísmo. Um símbolo.
Um exemplo. Uma obra a ser es-
tudada para contagiar as gerações
futuras...
* Advogado e professor da Uniara
Mandela, simplesmente Mandela
Fernando Passos
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