Jornal TRIBUNA IMPRESSA - 07/01/2014 - page 22

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Tô Ligado
Araraquara, 7 de janeiro de 2014
Tribuna Impressa
ARNALDO
JABOR
O perigo vermelho
Retiraram o corpo de João Gou-
lart da sepultura para examiná-lo.
Coisa deprimente, os legistas exa-
minando ossos de 40 anos atrás para
saber se foi envenenado. Mas havia
também algo de um ritual de ressur-
reição encenada.
Jango voltava para a turma que
está no poder e que se considera ví-
tima de 1964 até hoje. Só pensam no
passado que os ‘legitima’ com nostal-
gia masoquista de torturas, heranças
malditas, ossadas do Araguaia, em
vez de fazerem reformas no Estado
paralítico e patrimonialista.
Querem continuar a ‘luta perdida’
daqueles tempos ilusórios. Eu estava
lá e vi o absurdo que foi aquela ten-
tativa de ‘revolução’ sem a mais es-
cassa condição objetiva. Acuaram o
trêmulo Jango, pois até para subver-
são precisavam do Governo. Agora,
nossos governantes continuam com
as mesmas ideias de 50 anos atrás. Ou
mais longe. Desde a vitória bolchevi-
que de 1921, os termos, as ilusões são
as mesmas. Aplica-se a eles a frase de
Talleyrand sobre a volta dos Bour-
bons ao poder: “Não aprenderam
nada e não esqueceram nada”.
É espantosa a repetição dos erros
já cometidos, sob a falácia do grande
‘teólogo’ da História, Hegel, de que
as derrotas não passam de ‘contra-
dições negativas’ que levam a novas
teses. Esse pensamento justificou e
justifica fracassos e massacres por
um ideal racional.
No PT e aliados como o PC do B há
um clima de janguismo ou mesmo de
‘brizolismo’, prefêrencia clara da Dilma.
Brizola sempre foi uma das mais
virulentas e tacanhas vozes contrá-
rias ao processo de desestatização.
Mas, além dessas mímicas bra-
sileiras do bolchevismo, os erros
que querem repetir os comunistas
já praticavam na época do leninis-
mo e stalinismo: a mesma postu-
ra, o mesmo jargão de palavras, de
atitudes, de crimes justificados por
mentiras ideológicas e estratégias
burras. Parafraseando Marx, “Um
espectro ronda o Brasil: a mediocri-
dade ideológica”.
É um perigo grave que pode criar
situações irreversíveis a médio pra-
zo, levando o país a uma recessão
barra pesada em 14-15. É necessário
alertar a população pensante para
esse ‘perigo vermelho’ anacrônico e
fácil para cooptar jovens sem cultu-
ra política. Pode jogar o Brasil numa
inextrincável catástrofe econômica
sem volta.
Um belo exemplo disso foi a re-
cusa do Partido Comunista Alemão
a apoiar os social-democratas nas
eleições contra os nazistas, pois des-
de 1924 Stálin já dizia que os “social-
-democratas eram irmãos gêmeos do
fascismo”.
Para eles, o ‘PSDB’ da Alemanha
era mais perigoso que o nazismo.
Hitler ganhou, e o resto sabemos.
Esta semana li o livro clássico de
William Waack “Camaradas”, sobre
o que veio antes e depois da inten-
tona comunista de 1935, (livro atu-
alíssimo que devia ser reeditado), e
nele fica claro que há a persistência
ideológica, linguística, dogmática e
paranoica no pensamento bolchevis-
ta aqui no Brasil. A visão de mun-
do que se entrevê na terminologia
deles continua igual no linguajar e
nas ações sabotadoras dos alopra-
dos ao mensalão — o fanatismo de
uma certeza. Para chegar a esse fim
ideal, tudo é permitido, como disse
Trótski: “a única virtude moral que
temos de ter é a luta pelo comunis-
mo”. Em 4 de Junho de 1918, decla-
rou publicamente: “Devemos dar
um fim, de uma vez por todas, à
fábula acerca do caráter sagrado da
vida humana”. Deu no massacre de
Kronstadt em 21.
No Brasil, a palavra “ esquerda”
continua o ópio dos intelectuais.
Pressupõe uma “substância” que
ninguém mais sabe qual é, mas que
“fortalece”, enobrece qualquer dis-
curso. O termo é esquivo, encobre
erros pavorosos e até justifica mas-
sacres. Temos de usar “progressistas
e conservadores”.
Temos de parar de pensar do Geral
para o Particular, de Universais para
Singularidades. As grandes soluções
impossíveis amarram as possíveis.
Temos encerrar reflexões deduti-
vas e apostar no indutivo. O discur-
so épico tem de ser substituído por
um discurso realista, possível e até
pessimista. O pensamento da velha
“esquerda” tem de dar lugar a uma
reflexão mais testada, mais socioló-
gica, mais cotidiana. Weber em vez
de Marx, Sergio Buarque de Holanda
em vez de Caio Prado, Tocqueville
em vez de Gramsci.
Não tem cabimento ler Marx du-
rante 40 anos e aplicá-lo como um
emplastro salvador sobre nossa rea-
lidade patrimonialista e oligárquica.
De cara, temos de assumir o fra-
casso do socialismo real. Quem tem
peito? Como abrir mão deste dogma
de fé religiosa? A palavra “socialis-
mo” nos amarra a um “fim” obriga-
tório, como se tivéssemos que pegar
um ônibus até o final da linha, igno-
rando atalhos e caminhos novos.
A verdade tem de ser enfrenta-
da: infelizmente ou não, inexiste no
mundo atual alternativa ao capita-
lismo. Isso é o óbvio. Digo e repito:
uma “nova esquerda” tem de acabar
com a fé e a esperança — trabalhar
no mundo do não-sentido, procurar
caminhos, sem saber para onde vai.
No Brasil, temos de esquecer ca-
tegorias ideológicas clássicas e alis-
tar Freud na análise das militâncias.
Levar em conta a falibilidade do hu-
mano, a mediocridade que se escon-
dia debaixo dos bigodudos “defen-
sores do povo” que tomaram os 100
mil cargos no Estado.
Além de “aventureirismo”, “vaci-
lações pequeno burguesas”, “obrei-
rismo”, “sectarismo”, “democracia
burguesa”, “fins justificando meios”,
“luta de classes imutável “e outros
caracteres leninistas”; temos de uti-
lizar conceitos como narcisismo, vo-
luntarismo, onipotência, paranoia,
burrice, nas analises mentais dos
“militantes imaginários”.
Baudrillard profetizou há 20
anos: “O comunismo hoje desinte-
grado tornou-se viral, capaz de con-
taminar o mundo inteiro, não através
da ideologia nem do seu modelo de
funcionamento, mas através do seu
modelo de des-funcionamento e da
desestruturação brutal”, (vide o novo
eixo do mal da América Latina).
Sem programa e incompetentes,
os neobolcheviques só sabem ava-
calhar as instituições democráticas,
com alguns picaretas-sábios deitan-
do “teoria” (Žižek e outros). Somos
vitimas de um desequilíbrio psíqui-
co. Muito mais que “de esquerda” ou
“ex-heróis guerrilheiros” há muito
psicopata e paranoico simplório.
Esta crise não é só política — é psi-
quiátrica.
DIVULGAÇÃO
DA REPORTAGEM
O nacional “A Coleção In-
visível” é cartaz hoje, no Sesc
Araraquara. A sessão será às
20h, no Teatro da unidade. A
entrada é gratuita e os ingres-
sos podem ser retirados no
local com uma hora de ante-
cedência. Na trama, a família
de Beto é dona de uma tradi-
cional loja de antiguidades em
que está passando por uma
crise financeira. Para tentar
solucionar este problema, ele
se lança numa viagem até a
cidade de Itajuípe, interior da
Bahia, atrás de uma coleção
raríssima de gravuras que foi
adquirida há 30 anos por um
antigo cliente, o colecionador
Samir. Entretanto, logo ao che-
gar Beto enfrenta uma forte
resistência da esposa dele e de
sua filha Saada. No elenco, es-
tão Vladimir Brichta, Walmor
Chagas, Ludmila Rosa.
‘A Coleção Invisível’ é cartaz hoje, no Sesc Araraquara
CINEMA ALTERNATIVO
Tô ligado no
EXPERIÊNCIA
O ator Walmor Chagas
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