Tribuna Impressa [ nº 5226 Ano 17 Pag. 15 ]

A14 Tô Ligado Araraquara, 7 de janeiro de 2014 Tribuna Impressa ARNALDO JABOR O perigo vermelho Retiraram o corpo de João Gou- lart da sepultura para examiná-lo. Coisa deprimente, os legistas exa- minando ossos de 40 anos atrás para saber se foi envenenado. Mas havia também algo de um ritual de ressur- reição encenada. Jango voltava para a turma que está no poder e que se considera ví- tima de 1964 até hoje. Só pensam no passado que os ‘legitima’ com nostal- gia masoquista de torturas, heranças malditas, ossadas do Araguaia, em vez de fazerem reformas no Estado paralítico e patrimonialista. Querem continuar a ‘luta perdida’ daqueles tempos ilusórios. Eu estava lá e vi o absurdo que foi aquela ten- tativa de ‘revolução’ sem a mais es- cassa condição objetiva. Acuaram o trêmulo Jango, pois até para subver- são precisavam do Governo. Agora, nossos governantes continuam com as mesmas ideias de 50 anos atrás. Ou mais longe. Desde a vitória bolchevi- que de 1921, os termos, as ilusões são as mesmas. Aplica-se a eles a frase de Talleyrand sobre a volta dos Bour- bons ao poder: “Não aprenderam nada e não esqueceram nada”. É espantosa a repetição dos erros já cometidos, sob a falácia do grande ‘teólogo’ da História, Hegel, de que as derrotas não passam de ‘contra- dições negativas’ que levam a novas teses. Esse pensamento justificou e justifica fracassos e massacres por um ideal racional. No PT e aliados como o PC do B há um clima de janguismo ou mesmo de ‘brizolismo’, prefêrencia clara da Dilma. Brizola sempre foi uma das mais virulentas e tacanhas vozes contrá- rias ao processo de desestatização. Mas, além dessas mímicas bra- sileiras do bolchevismo, os erros que querem repetir os comunistas já praticavam na época do leninis- mo e stalinismo: a mesma postu- ra, o mesmo jargão de palavras, de atitudes, de crimes justificados por mentiras ideológicas e estratégias burras. Parafraseando Marx, “Um espectro ronda o Brasil: a mediocri- dade ideológica”. É um perigo grave que pode criar situações irreversíveis a médio pra- zo, levando o país a uma recessão barra pesada em 14-15. É necessário alertar a população pensante para esse ‘perigo vermelho’ anacrônico e fácil para cooptar jovens sem cultu- ra política. Pode jogar o Brasil numa inextrincável catástrofe econômica sem volta. Um belo exemplo disso foi a re- cusa do Partido Comunista Alemão a apoiar os social-democratas nas eleições contra os nazistas, pois des- de 1924 Stálin já dizia que os “social- -democratas eram irmãos gêmeos do fascismo”. Para eles, o ‘PSDB’ da Alemanha era mais perigoso que o nazismo. Hitler ganhou, e o resto sabemos. Esta semana li o livro clássico de William Waack “Camaradas”, sobre o que veio antes e depois da inten- tona comunista de 1935, (livro atu- alíssimo que devia ser reeditado), e nele fica claro que há a persistência ideológica, linguística, dogmática e paranoica no pensamento bolchevis- ta aqui no Brasil. A visão de mun- do que se entrevê na terminologia deles continua igual no linguajar e nas ações sabotadoras dos alopra- dos ao mensalão — o fanatismo de uma certeza. Para chegar a esse fim ideal, tudo é permitido, como disse Trótski: “a única virtude moral que temos de ter é a luta pelo comunis- mo”. Em 4 de Junho de 1918, decla- rou publicamente: “Devemos dar um fim, de uma vez por todas, à fábula acerca do caráter sagrado da vida humana”. Deu no massacre de Kronstadt em 21. No Brasil, a palavra “ esquerda” continua o ópio dos intelectuais. Pressupõe uma “substância” que ninguém mais sabe qual é, mas que “fortalece”, enobrece qualquer dis- curso. O termo é esquivo, encobre erros pavorosos e até justifica mas- sacres. Temos de usar “progressistas e conservadores”. Temos de parar de pensar do Geral para o Particular, de Universais para Singularidades. As grandes soluções impossíveis amarram as possíveis. Temos encerrar reflexões deduti- vas e apostar no indutivo. O discur- so épico tem de ser substituído por um discurso realista, possível e até pessimista. O pensamento da velha “esquerda” tem de dar lugar a uma reflexão mais testada, mais socioló- gica, mais cotidiana. Weber em vez de Marx, Sergio Buarque de Holanda em vez de Caio Prado, Tocqueville em vez de Gramsci. Não tem cabimento ler Marx du- rante 40 anos e aplicá-lo como um emplastro salvador sobre nossa rea- lidade patrimonialista e oligárquica. De cara, temos de assumir o fra- casso do socialismo real. Quem tem peito? Como abrir mão deste dogma de fé religiosa? A palavra “socialis- mo” nos amarra a um “fim” obriga- tório, como se tivéssemos que pegar um ônibus até o final da linha, igno- rando atalhos e caminhos novos. A verdade tem de ser enfrenta- da: infelizmente ou não, inexiste no mundo atual alternativa ao capita- lismo. Isso é o óbvio. Digo e repito: uma “nova esquerda” tem de acabar com a fé e a esperança — trabalhar no mundo do não-sentido, procurar caminhos, sem saber para onde vai. No Brasil, temos de esquecer ca- tegorias ideológicas clássicas e alis- tar Freud na análise das militâncias. Levar em conta a falibilidade do hu- mano, a mediocridade que se escon- dia debaixo dos bigodudos “defen- sores do povo” que tomaram os 100 mil cargos no Estado. Além de “aventureirismo”, “vaci- lações pequeno burguesas”, “obrei- rismo”, “sectarismo”, “democracia burguesa”, “fins justificando meios”, “luta de classes imutável “e outros caracteres leninistas”; temos de uti- lizar conceitos como narcisismo, vo- luntarismo, onipotência, paranoia, burrice, nas analises mentais dos “militantes imaginários”. Baudrillard profetizou há 20 anos: “O comunismo hoje desinte- grado tornou-se viral, capaz de con- taminar o mundo inteiro, não através da ideologia nem do seu modelo de funcionamento, mas através do seu modelo de des-funcionamento e da desestruturação brutal”, (vide o novo eixo do mal da América Latina). Sem programa e incompetentes, os neobolcheviques só sabem ava- calhar as instituições democráticas, com alguns picaretas-sábios deitan- do “teoria” (Žižek e outros). Somos vitimas de um desequilíbrio psíqui- co. Muito mais que “de esquerda” ou “ex-heróis guerrilheiros” há muito psicopata e paranoico simplório. Esta crise não é só política — é psi- quiátrica. DIVULGAÇÃO DA REPORTAGEM O nacional “A Coleção In- visível” é cartaz hoje, no Sesc Araraquara. A sessão será às 20h, no Teatro da unidade. A entrada é gratuita e os ingres- sos podem ser retirados no local com uma hora de ante- cedência. Na trama, a família de Beto é dona de uma tradi- cional loja de antiguidades em que está passando por uma crise financeira. Para tentar solucionar este problema, ele se lança numa viagem até a cidade de Itajuípe, interior da Bahia, atrás de uma coleção raríssima de gravuras que foi adquirida há 30 anos por um antigo cliente, o colecionador Samir. Entretanto, logo ao che- gar Beto enfrenta uma forte resistência da esposa dele e de sua filha Saada. No elenco, es- tão Vladimir Brichta, Walmor Chagas, Ludmila Rosa. ‘A Coleção Invisível’ é cartaz hoje, no Sesc Araraquara CINEMA ALTERNATIVO Tô ligado no http://migre.me/bcejt EXPERIÊNCIA O ator Walmor Chagas

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